segunda-feira, 5 de novembro de 2012

"Most of us need the eggs."

Qualquer um que seja acometido pelo sintoma da nostalgia sabe que revisitar certas referências pode ser problemático. Existe uma famigerada regra que estipula um ponto na nossa vida como o divisor de águas entre uma fase "sem senso crítico" e o resto dos nossos dias. Dada essa regra, sensato seria nunca quebrá-la, para nunca sofrer com desilusões culturais e/ou sentimentais.

Após ser apresentada a uma interpretação filosófica do filme Annie Hall, resolvi conscientemente quebrar essa regra e revisitar um filme que há muito tempo tinha me servido de referência, em inúmeros aspectos da minha vida privada. 

O que se segue não é um relato fidedigno dessa experiência.

Demasiado habituada às inovações cinematográficas da mais alta estirpe, desenvolvi um desencontro ideológico com a arte da crítica, em especial a que se reserva ao cinema. Ainda que crente da hermenêutica, peguei-me acreditando na obra de arte como demasiado hermética e as palavras de crítica demasiado enfadonhas. Passaria horas escrevendo uma crítica perfeita sobre todos os incríveis aspectos de Annie Hall e ainda não saberia se existe ou não espaço para esse filme na parte com-senso-crítico da minha vida. A grande conclusão a que cheguei é que isso realmente não me importa.

Sentir as palavras — não dos críticos, mas as do próprio filme — dialogando comigo, afinadas, harmoniosas, me é mais valioso do que qualquer crítica que descrevesse o estilo cinematográfico do Woody Allen. Ainda que o crítico lecione a mais importante e disputada cadeira de cinema do mundo universitário.

Encontro pessoas pessoas todos os dias que se acomodam nos mais importantes papéis e, ainda assim, não concordo com uma palavra que dizem. Como não ficar perfeitamente contente com isso?

domingo, 4 de novembro de 2012

Nostalgia-de-si

Escrever é um meio de reificar-se. 

Debruçar-se sobre antigos escritos próprios é, no entanto, uma experimentação curiosa. É uma nostalgia de si. É brincar de se revisitar — uma brincadeira que não aconteceria sem essa reificação.

Mas de tantas vezes que reencontrar sentimentos fora constrangedor, revisitar esses mesmos sentimentos com tranquilidade é sinônimo de paz consigo.

O que assusta é quando esse momento te traz inspiração. E desponta uma dúvida: todo esse processo se revelará como um retrocesso ou uma releitura do eu-reificado? 

Prefiro abraçar esse reencontro como o reencontro com um pedaço que havia se perdido.